NA SOMBRA FRESCA DA ÁRVORE violentada
– anjo de fogos olhos – homem no albergue dos pássaros, o céu não existe. A
leveza Nestor. A leveza Nestor: onde? Não se engane: quase nada existe, mas
olho a casa de suas palavras entes de sair para a rua: tenho um cisco alheio
dos meus olhos. Olho novamente sua casa: janela aberta onde não há tempo para
janelas. Leveza Nestor. Ele se movimenta, casa, tempo, campo, casais, leveza
onde o céu não existe, e insiste em pescar palavras antes que elas se
petrifiquem. Dizem que é Destino, digo que é leveza das manhãs onde as lâmpadas
morrem, digo leveza maternal fera onde nascem histórias. Espero outro olhar nas
cores da vida: leveza. Um rosário “deságua, aflita, flagela e venta almas” e
rema, recolhe outras redes. Hoje quero um ramo além do nome. Nestor “se
apropria das íntimas escolas de ventos”, suas roupas carregam janelas e portas,
mas Nestor cadê a leveza? Cancelaram os voos das folhas, mas o poeta – nó na
garganta – não acompanha as mortes dos vestidos. Ele quer o lugar onde os sóis
encontram cavalos em versos em cores. Uns dizem que é destino ter um cavalo
alado, mas como colorir com palavras a leveza desse voo mítico e ancestral? Na
última vez que olhei sua casa, retirei uma gravura, nela a tarde não chega, nem
o filho me toca os ombros, mas em cada momento que tento decifrar seus sinais
de raízes cotidianas: os pássaros vão embora sem nada entender. Carregam “uma
mão de vento e pés de nuvem”.
O verbo semente de filhos, frutos,
terra, água, ventos, pó: Deus sorri. A morte nunca. O poeta desenha novos olhos
para o anjo, desata o nó da garganta e aceita à trama: mistura suas lágrimas ao
pó da criação. Doze círculos lhe consumem, lhe comandam, ajustam as engrenagens
de seus dedos e dentes. O verbo se faz lâmina: dozes senhores. Onde encontrar a
leveza Nestor? Leveza se ajoelhando no vento. “O movimento de um certo tipo de
tempo, gasto pelo beijo das mãos, juntas, e vazias, em oração”. (...) Quatro
bandeiras, quatro promessas, quatro pensamentos, quatro discursos. Quatro adeuses,
acenos encobertos, quatro mistérios cavalgam o mundo (...). Assim me entrego à
leveza de suas mãos, comungo em pensamento, faço-me Atibaia, São Paulo, e fico
sentado na soleira da porta desta casa “Roupagem leve” de Nestor Lampros.
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