segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Que faço deste dia (para o livro: “outro dia de folia”, de Eduardo Lacerda).


Que faço deste dia

Há regras e não me encaixo, estou à esquerda a olhar de lado. Na parede: copos, cigarro, lençóis, e o espelho fazem festa. Espero Eduardo para “outro dia de folia”, para outros dias de poesia: germe de tantos anos e simpatias. O gato espera sete vidas: baú deu passos ciganos. Caminho nas retinas deste felino: ele e os espíritos não me enxergam, mas deixo um poema e uma vela acesa.


Nos seus olhos chamo meu nome, e esbarro no que reconheço. A minha frente não pede esmola: têm balões, fogos de artifícios e litros de santos “Eles também nos verão em dobro?”.


Não misture o barro, recolha a chuva: eu, o gato, Eduardo bebemos nas mãos do pai. Mãos ancestrais banhadas em vinagre. Entramos no jogo, arcanos de arcanos, forca de palavra, barulho de insônia a mudar a direção do cardume de peixes: nossas patas e mãos sagram e não escrevemos no escuro, todos os dias vamos até a caixa do correio na tentativa de encontrar “outro dia de folia”.


Estamos apressados e não há remédio, nem dentes. Nos bolsos de nossas calças amigos e fadas estão à deriva. Na bússola líquida dos nossos passos o som dos livros sendo devorados: “é preciso / enterrar-se vivo / na areia”. Ovo primeiro, primeiro poema, primeiro contato na casa onde palavras se escondem: só por brincadeira.


Aruanda recebe seu despacho, visita guerreira de Yansã, afago de invisível tempestade. Iemanjá rasga os músculos dágua. Cachoeira do reino de Oxum. Primeira pedra de Xangô. No espelho acompanho Oxumaré: o começo e o fim crescem sem olhar para trás. Infalíveis caminhos de Oxossi não se preocupam com o tempo e amuletos. Diante da Pomba-Gira cruzo as pernas, e as palavras revelam medos: corpos extremos.



Na esquina, nem eu, nem o gato.


Que faço deste dia? Neste “outro dia de folia”, de Eduardo Lacerda.

José Geraldo Neres (2012)
Conheçam mais deste livro: http://www.editorapatua.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=124

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

MENU DE POESIA dedicado à obra de Claudio Willer - 25/01 - CCSP



Menu de poesia - CCSP - 25/01/2013: Recital poético dedicado à obra do poeta brasileiro Claudio Willer, um dos autores mais expressivos da poesia surrealista do Brasil, com organização de Maria Alice Vasconcelos e participação dos poetas Roberto Bicelli, Celso Alencar, José Geraldo Neres, Célia Musilli, Contador Borges, Lelia Miura, Edson Bueno de Camargo, Ivan Regina, Célia Ábila, Paulo Ortiz, Liz Reis e Claudio Daniel.

ROBERTO PIVA, CLAUDIO WILLER E JOSÉ GERALDO NERES (fevereiro de 2009).

ROBERTO PIVA, CLAUDIO WILLER E JOSÉ GERALDO NERES (fevereiro de 2009).

Recital "Pluriversos": Lembrança de uma noite prá lá de poética (agradeço ao Rui Mascarenhas do blog MEIOHOMEM pelo registro), dia 8 de fevereiro de 2009, na Casa das Rosas - Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura.

"Estar ao lado de dois poetas e mestres que tanto admiro, creio que nunca tremi tanto durante um evento; ainda bem que tinha uma mesa para me esconder".