quinta-feira, 24 de setembro de 2009

AMBROSIA

sentir o ritmo
e mergulhar no cântico das águas
o grito
revela o paladar-líquido do orvalho-carne
moldura debruçada num cálice de música e palavras





I




na barranca
pintura de medo
perfume de lua

com tranças de árvore
teço um balanço
e bailo nas estrelas
a ciranda dos sonhos




II




com vestes estelares
dragões na cintura
as faces da lua
no peregrino dorso

n’aquarela
gritos
dilaceram
girassóis




III




o sexo grita
as dores do arco-íris
espasmo secular
gotas insanas

relevo sem tramas




IV




nas lágrimas
a face misturada
lava outras faces
o mar selvagem
se curva
escultura nua
crua de segredos




V




um punhal
onírico
tatua na
película
do
corpo
dezessete pedras

giram o castelo
nas
sandálias da lua




VI




o corpo suado
moldura d’água
bebe natureza
um aquário soluça

seu corpo deserto




VII




delírio prateado
protesto calado de uma gueixa
orquídea em máscara de orvalho
sentencia despedidas

(temporal de saquê)




VIII




cativos
em sonhos verdes
amaru e sade
em versos

cálix corpo
cálido convexo

guirlanda mítica
cantiga tênue
madrugada
nua




IX




procura o corpo dentro de si
em atos de selvageria
rasgam-se

sussurros

no oitavo dia semanal
a madrugada extasiada
banha-se no néctar uterino
da mãe-terra




X




fantasmas se entregam à noite
o dia beija
a face da madrugada




XI




os seus pecados
cavo pela metade
sem qualquer esforço
as sobras dos seus atos
deixo para o julgamento
da sua amada

isso

se ainda lhe restou alguma




XII




riacho da lua guerreira
peixe e fogo
na moldura

o dia no ventre
do centauro negro
flecha umedecida
na aurora boreal




XIII




cântico na órbita-azul
verbo de tambores
e silêncios

água na caça
de um sagitário
e labirintos

grito as melodias
do Vesúvio

esfinge semeia
o nono girassol
no relógio lunar




XIV




Âmago
ser libertino
mescla-se com líquido
em manhoso êxtase
o deleite compassa o desatino
tatuo um poema no seu dorso
manifesto silente de mistérios
a madrugada estimula tramas
estrelas brincam no espelho d’alma
orvalho
o paladar do amanhecer
são versos em papiro imaculado




XV




roçar arco-íris
com dedos cristalinos
sussurrar palavras extintas
no dicionário da floresta carnal
punhal aveludado
bálsamo em cicatriz azul
ingênuo instante
poema bilíngüe
modela nuvens de algodão




XVI




estrela marinha
aquário de vento
gota tecelã
suspensa

(olhos-tempestade)

o seio lunar
contorna o orvalho

pedra de fogo
lateja na aquarela-ventre
gênesis




XVII




no leito
silhueta
sol de lábios místicos

na porta
o som chama-me a bailar

reina-mulher
cavalga e alimenta

tatua seu mapa
neste peregrino

na barca-desejo
o suor da noite

sem estratégia
sem medo-amanhã
me entrego
ô caçadora!

Avalon
se desenha na seiva
navego




XVIII




mordo a noite
e os espelhos de luz – mulher
retalhos
de palavras carnívoras
no tempo de sombras
corpo
labirinto de meus olhos
a música do seu ventre
revela as portas da morte
abraço essa melodia
a seiva de uma estrela
e sinto a canção do silêncio
percorrer pelo corpo

um beijo
recebe a primeira gota de orvalho

me alimento do seu sorriso
oferta de sangue



Poema: José Geraldo Neres

Visitem a versão com ilustrações de Floriano Martins.
http://www.triplov.com/poesia/neres/Ambrosia/index.html
Visitem o link deste poema TRADUCCIÓN DE MARTA SPAGNUOLO
http://www.elfantasmadelaglorieta.com/15_jgneres.htm

Um comentário:

  1. Visitem a versão com ilustrações de Floriano Martins.
    http://www.triplov.com/poesia/neres/Ambrosia/index.html
    Visitem o link deste poema TRADUCCIÓN DE MARTA SPAGNUOLO
    http://www.elfantasmadelaglorieta.com/15_jgneres.htm

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