quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Apresentação do livro Roupagem Leve, de Nestor Lampros (Editora Patuá, 2012), por José Geraldo Neres.


NA SOMBRA FRESCA DA ÁRVORE violentada – anjo de fogos olhos – homem no albergue dos pássaros, o céu não existe. A leveza Nestor. A leveza Nestor: onde? Não se engane: quase nada existe, mas olho a casa de suas palavras entes de sair para a rua: tenho um cisco alheio dos meus olhos. Olho novamente sua casa: janela aberta onde não há tempo para janelas. Leveza Nestor. Ele se movimenta, casa, tempo, campo, casais, leveza onde o céu não existe, e insiste em pescar palavras antes que elas se petrifiquem. Dizem que é Destino, digo que é leveza das manhãs onde as lâmpadas morrem, digo leveza maternal fera onde nascem histórias. Espero outro olhar nas cores da vida: leveza. Um rosário “deságua, aflita, flagela e venta almas” e rema, recolhe outras redes. Hoje quero um ramo além do nome. Nestor “se apropria das íntimas escolas de ventos”, suas roupas carregam janelas e portas, mas Nestor cadê a leveza? Cancelaram os voos das folhas, mas o poeta – nó na garganta – não acompanha as mortes dos vestidos. Ele quer o lugar onde os sóis encontram cavalos em versos em cores. Uns dizem que é destino ter um cavalo alado, mas como colorir com palavras a leveza desse voo mítico e ancestral? Na última vez que olhei sua casa, retirei uma gravura, nela a tarde não chega, nem o filho me toca os ombros, mas em cada momento que tento decifrar seus sinais de raízes cotidianas: os pássaros vão embora sem nada entender. Carregam “uma mão de vento e pés de nuvem”.
O verbo semente de filhos, frutos, terra, água, ventos, pó: Deus sorri. A morte nunca. O poeta desenha novos olhos para o anjo, desata o nó da garganta e aceita à trama: mistura suas lágrimas ao pó da criação. Doze círculos lhe consumem, lhe comandam, ajustam as engrenagens de seus dedos e dentes. O verbo se faz lâmina: dozes senhores. Onde encontrar a leveza Nestor? Leveza se ajoelhando no vento. “O movimento de um certo tipo de tempo, gasto pelo beijo das mãos, juntas, e vazias, em oração”. (...) Quatro bandeiras, quatro promessas, quatro pensamentos, quatro discursos. Quatro adeuses, acenos encobertos, quatro mistérios cavalgam o mundo (...). Assim me entrego à leveza de suas mãos, comungo em pensamento, faço-me Atibaia, São Paulo, e fico sentado na soleira da porta desta casa “Roupagem leve” de Nestor Lampros.





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