segunda-feira, 10 de setembro de 2012

'um saxofone na parede' e 'eu devia ter matado' (neres/ortiz)


UM SAXOFONE NA PAREDE

um tormento qualquer que seja. ossos paralisados. antes do sétimo dia, o sétimo na semana, o mês sete, sete mistérios, sete tronos. ametista e pedra do sol. as palavras não escutam o grito. caminho na sombra de inverno. sete horas: noite.

ninguém se levanta da cama. travesseiros perambulam. na ponta do lápis, a ponta da língua. brinco de vaticinar. as vacinas terminam perto dos olhos. encontro com os dias de descanso, e ninguém se deita. perto dos meus pés, pílulas. primavera de milênios espia os primeiros suspiros das flores: elas são órfãs.

a luz do banheiro continua desperta. serei eu o veneno no extremo da flecha que se lança em férias? o arremesso. a carne perfurada mais um centímetro. as costelas têm o tamanho do tempo. a carne do outro lado do corpo: nenhuma saliência. dizem que os minutos sagram: há horas espero a ruptura tomar alguma forma. o tempo e eu fizemos um pacto de silêncio.

quando o instante sangra. caminho com a roupa do pó, sempre rebelde. para a visita, deixo flores. a morte sempre soube de um leve espaço no meu ombro. gaiolas tremulam. nosso faroeste: sou a semente do revólver. as guerras apenas estão sonolentas. setes vultos perfuram o horizonte. nuvens de travesseiros, já soltas em pleno ar, próximas à fonte. viro três goles. abro os braços até cada costela alcançar o arco da primavera.
 

estou pronto: sete flores e um tormento. não escuto nada, as palavras se escondem dentro do travesseiro.

(josé geraldo neres & paulo sposati ortiz)


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EU DEVIA TER MATADO

Com a porcelana do poema de Álvaro
Coxas de minha desatenção
                Meu sexo é palavra de porcelana
                No verso de tua meia-calça
O silêncio é o suor
Do irritante templo dessas pernas
                Tuas duas pernas
                Poema antes de morrer aos 37 anos

(José Geraldo Neres & Paulo Sposati Ortiz)

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